Punhal Excelente


Já quase não há, o punhal excelente
com que a mim próprio me esventrei algumas vezes
para melhor me desentranhar em versos
–– esse lícitos salpicos de lama,
essas coisas à toa, hossanas, ambições,
promessas, juras, astutas
ingenuidades: toda essa merda que há
dentro do poeta e com que ele gosta
de borrifar os outros. Para que
não se fiquem a rir.

E eis que agoniza: o gume rombo,
manchas inamovíveis de ferrugem,
incapaz de incisões, definitivamente
inoperacional o punhal excelente.
Paz ao seu aço.

A.M.Pires Cabral