proscrita é a voz
que grita e não cala
a raiva que estala
quando estamos sós
assim nós ficamos
a cerrar os dentes
nas mãos as sementes
que não semeamos
está por toda a parte
o duro cantar
de vir ou rachar
sem jeito nem arte
mais fero que manso
efeito sem causa
em busca da pausa
de um magro descanso
pele ao abandono
macia e suada
agora molhada
na noite sem sono
do sémen que nasce
na flor das marés
dos dedos dos pés
aos olhos da face
desejo que queima
por dentro e por fora
sempre à mesma hora
em penosa teima
a trova emudece
se a morte o levar
se a cidra acabar
a noite arrefece
porque mata e mói
calar esse pranto
ai que custa tanto
saber onde dói
venha o que vier
nós sempre morremos
dos medos que temos
num longe qualquer.
Paulo Barrosa