Poema


Ah, eu o sei pelos rios vitalícios.
Eu o sei pelos vivos em seus
teares: é aqui que levanto
o amor ressuscitado, entre

o coração e o dardo. Sei-o
pelo arado, entre o ser e o
círio, pelas páginas
de dentro, em que as coisas

se veneram na combustão
das metáforas descalças:
aves que foram ontem;
lâmpadas que foram soltas,

enquanto as sílabas, em seus
ocultos olhos, nos fixam
como punhos e se deitam
ou nos dizem que o

espírito é um malmequer
aberto, um espinho
e um arco, o lugar
do abismo sob o vácuo.

É aqui que se erguem os braços,
líquidos como navalhas,
álgidos como faúlhas, em
seus dedos múltiplos.

Aureliano Lima