Um barco de névoas visitou-me o sangue
e (cada vez mais nocturno) deixou marcas:
são limos, corais, potros, mel de monarcas,
asas de gaivota com que danço o tango.
Corro nesse barco em noites de morango
ilhas onde o sémen se esconde nas arcas,
par’cendo maçãs velhas em vez de farpas,
ó poetas de Bocage a Anto.
Se o barco fugir, perdido no escuro
(o meu olhar seco em forma de pão duro),
venham outras sinas dar-me as mãos em fúria…
Vou ficar no mar, a ver moças de areia,
Coberto de sial nas mamas das sereias,
Farrapo de génio, de sol e luxúria…
Fernando Grade