A uma Estátua de Baco - Hino
Salve, ó sanguessuga da goteira,
Salve grão padre Baco, salve a fofa
Barriga enchouriçada, que estofa
No enlambuzado horror da borracheira.
Ó perpétuo cabide da picheira,
Que razão pode ter quem de ti mofa?
Sendo eterno centúrio da galhofa?
Sendo autor contumaz de dormideira?
Rindo te pôs o artífice, e o caminho
Dos anos maquinou na sua frágua
O choro, que hoje tens nesse focinho.
Indigno te é o gozo, e digna a mágoa;
Deves ao tempo mais, faltando o vinho;
Que deves ao Escultor, sobrando a água.
Francisco de Pina e Melo
De Amor os Raios Cobrindo
Se por dar lustre aos pesares
Vossas lágrimas teimosas
Correm por margens de rosas,
Porque não cabem nos mares,
A submergir esses ares
Subiam rios crescendo,
E certo o naufrágio sendo,
A fineza deslustrais,
Porque podendo amar mais,
Deixareis de amar morrendo.
Deixai que o mar se dilate,
Que o rio se precipite,
Que o vento se fortifique,
Que em água a nuvem desate,
Sem que vós neste combate
Balas de neve esgrimindo,
Que as estrelas vão ferindo,
De neve e fogo tomeis
As armas com que ofendeis,
De amor os raios cobrindo.
Soror Madalena da Glória
Correm por margens de rosas,
Porque não cabem nos mares,
A submergir esses ares
Subiam rios crescendo,
E certo o naufrágio sendo,
A fineza deslustrais,
Porque podendo amar mais,
Deixareis de amar morrendo.
Deixai que o mar se dilate,
Que o rio se precipite,
Que o vento se fortifique,
Que em água a nuvem desate,
Sem que vós neste combate
Balas de neve esgrimindo,
Que as estrelas vão ferindo,
De neve e fogo tomeis
As armas com que ofendeis,
De amor os raios cobrindo.
Soror Madalena da Glória
Quem não Trabuca, não Manduca
Olhai que quem quer comer
trabalha, lida, e trabuca;
que quem trabuca manduca
mil vezes ouvi dizer;
mas ociosos viver
e vir comer pão alheio
é um caso muito feio;
coma quem sua e trabalha,
beba quem na eira malha,
ao sol e calma, o centeio.
que quem trabuca manduca
mil vezes ouvi dizer;
mas ociosos viver
e vir comer pão alheio
é um caso muito feio;
coma quem sua e trabalha,
beba quem na eira malha,
ao sol e calma, o centeio.
António Serrão de Castro
Lisboa
Olá Lisboa, pela primeira vez
Olá Lisboa, pela primeira vez
Lembro-me de ti
Como se fosse um regresso a casa
As ruas escuras à noite
O medo de quem quer voltar
E passo por ti
Condenado a sentir um vazio
Na hora de te abandonar
A lembrança de quem quer ficar
A cidade por descobrir
Um adeus, vou partir
Lisboa, és só tu e eu
Lisboa, és só tu e eu
Confesso-me a ti
Ó cidade de noite encantada
Lembras-me a vontade
Hoje eu vou ficar
Agarro-me a ti
Confrontado a saudade que sinto
A hora está-se a aproximar
As memórias de quem quer voltar
Um segredo que vou descobrir
O adeus, vou partir
Lisboa, és só tu e eu
Lisboa, és só tu e eu
E passo por ti
Condenado ao vazio
A ansia de querer voltar
O adeus que não te vou dizer
Espero aqui
Com o mar controlado
A história de ter um passado
A idade de te conhecer
A cidade por descobrir
O adeus, vou partir
Lisboa, és só tu e eu
Lisboa, és só tu e eu
João Ribas
Sobre las alas del viento pongo mis saludos
cuando hacia mi amado sopla con el calor del día;
sólo pido que recuerde el día de su partida,
cuando hicimos un pacto de amor junto al manzano.
Graciosa gacela, con tu hermosura me cautivaste,
cruelmente me esclavizaste en tu prisión.
Desde que la ausencia se interpuso entre nosotros
no he encontrado figura comprable a tu belleza.
Saboreo una roja manzana cuyo aroma es como
la fragancia de tu rostro y tu atavío;
tiene la misma forma de tus pechos y el color
de ese rubí que asoma a tus mejillas.
La noche en que la joven gacela me descubrió
el sol de sus mejillas y el velo de su pelo,
rojizo cual rubí, cubriendo, sobre
sien de húmedo bedelio, su bella imagen,
se parecía al sol, que cuando despunta enrojece
las nubes del alba con su brillante llama.
La cierva lava sus vestidos en las aguas
de mis lágrimas y los tiende al sol de su esplendor,
No precisa agua de manantiales, pues tiene mis ojos,
ni sol, con la belleza de su figura.
cruelmente me esclavizaste en tu prisión.
Desde que la ausencia se interpuso entre nosotros
no he encontrado figura comprable a tu belleza.
Saboreo una roja manzana cuyo aroma es como
la fragancia de tu rostro y tu atavío;
tiene la misma forma de tus pechos y el color
de ese rubí que asoma a tus mejillas.
La noche en que la joven gacela me descubrió
el sol de sus mejillas y el velo de su pelo,
rojizo cual rubí, cubriendo, sobre
sien de húmedo bedelio, su bella imagen,
se parecía al sol, que cuando despunta enrojece
las nubes del alba con su brillante llama.
La cierva lava sus vestidos en las aguas
de mis lágrimas y los tiende al sol de su esplendor,
No precisa agua de manantiales, pues tiene mis ojos,
ni sol, con la belleza de su figura.
Yehuda Ha-Levi
À bem-amada
minh’alma quer-te com paixão
ainda que haja nisso uma tortura.
que estranho ser difícil nossa ligação
se os desejos d’ambos concordaram !
que quereria mais meu coração,
ao desejoso te buscar em buscar vão,
se meus olhos te viram e amaram?
Allâh bem sabe que não há razão
de vir aqui senão para te ver.
que o vigia não nos possa achar
se o nosso reencontro acontecer
Pra os teus lábios doces eu provar.
folgarei no jardim da tua face,
beberei desses olhos o langor,
e mesmo que um terno ramo imitasse
o teu talhe grácil, sedutor,
valerias mais que o imitador.
não te ocultes, oh jardim secreto:
quero colher meu fruto predilecto!
Ibm 'Ammar
Pátria
Creio no arco-íris, na cal duma velha casa e na reconciliação
das vozes dissonantes; creio na exaltação do ensejo do fogo
dos amantes; creio na claridade da alma e espírito da chuva;
creio na causa da lua sobre marés, na liberdade, nas palavras
Creio nos peixes, nos segredos do mar; creio nos sortilégios
duma árvore, na virtude da paz; creio no fecundo da poesia
e nos quatro elementos; creio na essência de vulcões e rios;
creio na eternidade das bibliotecas, na ressurreição do Poeta
Creio nos pássaros, nas dádivas da terra, na bondade do sol;
creio na agitação dos girassóis ao amanhecer; creio nos dias
que virão, na música, nas rosas, na fecundidade dos ventos.
Eis a Pátria que admito; creio nela sem medo de envelhecer.
Ivo Machado
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