No Tempo Dos Poemas


Deixávamos as moedas no carril e ficávamos à espera a
olhar com o fascínio de quem é surpreendido num fim de
tarde pela presença de naves alienígenas num espaço de
silêncio e rarefacção a ver as rodas metálicas do comboio a
espalmá-las até ficarem assim nas mãos em concha de um
de nós como se tivéssemos recolhido enfim a prova irrefu-
tável dos milagres. Foi/
há tantos anos/
a senhora da bandeirinha vermelha perguntava se nunca
tínhamos visto um comboio/
lembro-me era no tempo dos poemas/
um verso podia ser também a moeda espalmada nos carris
da estação do caminho de ferro de Vidago/
tudo se misturava na mesma nuvem volátil de irrealidade
e sobressalto.

José Carlos Barros