Abri meus olhos ao raiar da aurora
e parti. Veio o sol e, então, segui-a,
a sombra, que eu julgava guiadora,
a minha própria sombra fugidia.

E foi subindo o sol, ao meio-dia,
escondeu-se-me aos pés a sombra; agora
se volvo o olhar onde passei outrora,
vejo-a seguir-me, a sombra que eu seguia.

A gente é o sol dum dia; sobe, avança,
passa o zénite e vai na imensidade
apagar-se do mar, onde se lança...

E a vida é a própria sombra; meia idade,
somos nós que a seguimos, e é a Esperança;
depois segue-nos ela: é a saudade.

Fernando Caldeira