A Poesia é uma Mulher


A Poesia é uma Mulher
A palavra assim o diz
Quem sabe o que o génio requer
Para dignar-se o som a ser feliz
Em perfeita combinação
De imagem e sentido,
Que em conjuntiva significação
Adornam um pensamento ido,
Vivido, sofrido, ou significante
Ausente de inócua presença,
Vaga reminiscência instante,
Puro reflexo de incontestável sentença.

A Poesia é uma Mulher
Vestida de elegância,
Nome de rosa, mas não qualquer,
Ou de rainha, que em vez de errância
Prefere a azáfama caseira,
Ordenação infinita de linguagem
Que me é transmitida à maneira
De ternurenta voragem,
Narrativa redundante,
Relevante verbo repetitivo,
Semântica eufonia edificante,
Complemento sintáctico enunciativo…

A Mulher que é a Poesia
Não pode de amor conter,
Impregnada de criadora fantasia,
Geração em seu regaço suster.
Herdeira sou de roseira brava
Bem como de senhora imaginativa
De cujos seios imanava
O fruto de tecida obra contemplativa.
Pode o discurso variar
Em género ao sabor de quem o quer
E o signo a diversidade ousar,
Mas a Poesia é sempre uma Mulher!

Ana Margarida Chora