A uma Estátua de Baco - Hino


Salve, ó sanguessuga da goteira,
Salve grão padre Baco, salve a fofa
Barriga enchouriçada, que estofa
No enlambuzado horror da borracheira.

Ó perpétuo cabide da picheira,
Que razão pode ter quem de ti mofa?
Sendo eterno centúrio da galhofa?
Sendo autor contumaz de dormideira?

Rindo te pôs o artífice, e o caminho
Dos anos maquinou na sua frágua
O choro, que hoje tens nesse focinho.

Indigno te é o gozo, e digna a mágoa;
Deves ao tempo mais, faltando o vinho;
Que deves ao Escultor, sobrando a água.

Francisco de Pina e Melo