Piscina


reverbera o rio no translúcido volume dos teus olhos
a água é uma canção de espaço num copo pequeno
e uma gota de leite desce do teu seio como um sopro cheio
instinto de destilar a seiva por qualquer poro mesmo alheio
o rio marginal decorre em teus olhos foz
um percurso de beijo a que os meus lábio compõem um sabor de flor

nos teus lábios o sangue vibra muito de muito dentro de nós
e expande o doce mundo que o contém quente e para mim
és sempre a estrela fixa e descida, a iluminura retida
o fluido que as idades antigas transpiraram hoje vertida
vestes molhadamente o que te capto solícito e bebo
e a tua pele é uma viagem por ninguém nunca antes concebida
num dedo

e em mim sinto-te vestida do que és de despida
cosmonauta homonauta que te preenche o teu hélio secreto
amor da vida que te habita o total calor completo
de insecto

muito mais que um rio o rio se te resume em piscina
olhos abertos erectos química composição que te fascina
e eu álamo de ti vegetal verde veia pulsada que resina
e fez

a água é uma porção breve infinita na mulher síntese que és
minha mina.

Dórdio Guimaráes