Declaro mi Objeción

Le objeto a los empujones en la calle, 
a las miradas inquisidoras, 
a la malagana, 
a la basura en el piso, 
al militar del puente, 
a los estereotipos de niña y de niño, de bueno y de malo, 
de blanco y de negro. 

Le objeto a la ignorancia y al exceso de entretenimiento, 
a los héroes que no existen, 
a la costumbre del olvido y la indiferencia, 
al consumo exuberante, 
al pan-y-circo, 
a no dolerse con otro/a. 
Pero sobretodo le objeto a no detenerse y disfrutar el día, 
le objeto a no inventar molinos y gigantes, 
a perderme una fiesta, 
un grito, 
una sonrisa, 
un amante, 
un beso, 
un libro
 y un canto.

Ihasa Tinoco

A Árvore do Viajante


Do génio a que deu abrigo,
Sem ser por obrigação,
Ninguém sabe, ser amigo
Não exige condição.

Para o que casa não tem,
É sempre longa a viagem.
Dar, pois, sem olhar a quem,
Que caminho é passagem.

Por muito mais receber,
A seu favor o que dá
Nada lhe falta para ser
Quem mais tem, se nada há.

Sombras podia vender
Aos que o sol castigava,
Mas antes pôr a render
Consolo a quem passava,

Deserdado, peregrino,
Andarilho, mercador,
Umas vezes, sem destino
Buscando seja o que o que for;

Outras, terras demandando,
Da promissão desejada
Que não se sabe até quando
Um dia, nos leva a nada.

Vergílio Alberto Vieira

Contrato Social

Estava disponível para negociar.

Aceitaria as dificuldades,
mas não
a privação.

Ou aceitaria a privação, mas
jamais a fome.

Aceitaria a fome, mas
nunca a vergonha. Ou a
vergonha,
mas não a humilhação,
ou aceitaria a humilhação, mas
nunca o sacrifício. Aceitaria
o sacrifício, mas não o abate.

Aceitaria o abate.
Só queria que lhe garantissem
que não seria em vão.

Madalena de Castro Campos

Nihilismo


En el fondo de ti vuela la mariposa
personal ¡Salta en el vacío!
Nada suplanta la experiencia diestra
¿Qué haces en la ribera lamentándote?
momento piloto del ser monumento
Estar en el espacio santísimo y divino
las dos pupilas diarias y el órgano pineal
y mirar las estrellas con ojo terco

En la época dorada saber poner las manos
sobre la Nada no coger ya nada

La mixtificación no te rodea

Carlos Edmundo de Orly

Cântico 8


Não sou eu que vivo, mas a flor
que dando-se às eternidades pretéritas
respira no que desconhece
a beleza inaugural do dia.
Já não sou eu que vivo
mas o tempo estranhado pelo sem-tempo
em madrugadas tão plenas que tecem caminhos.
Um dia, quando voltar da morte e me detiver em frente à janela
que me puxa para dentro do segredo e do mistério
ter-te-ei despido.
Já não sou eu que vivo
e se gritar afogo-me no meu próprio eco
neste campo de escombros
átomos explodindo nas carnes das casas.
Já não sou eu que vivo
mas o grito
o milagre nos corredores da noite
nas mãos dadas a ninguém.
Entranhas de Deus espalhadas sobre a tua ausência.

Joana Emídio Marques

À Espera da Musa


Espero pela musa como quem confia
na transfiguração do mundo e na transmigração das almas.
Espero pela musa como quem não usa
usar o pensamento no lugar do génio
que todo o verso puro traz da luz eterna. Espero
pela musa, louco, pela musa espero, fonte
da minha criação sem termo. Um verso, musa,
um verso mais espero. E, se não vem,
sempre virá depois de apenas não ter vindo.

Musa espero, como quem confia.

Luís Adriano Carlos

Os Canalhas


Os canalhas estão em toda parte.
Vermes, crescem no lixo e no caviar.
Alguns andam descalços, maltrapilhos;
Outros passam por mim engravatados.

Estes senhores vermes são os piores,
Pois fedem a perfumes parisienses,
Usando o linguajar do overnight. Ah!
Como é gostoso vê-los exibindo

Os seus cornos vistosos de reis nus.
Seus destinos, porém, estão traçados:
Segundo o figurino do Iscariotes,

São sempre pela História retratados,
Exibindo uma língua de três palmos,
Pendurados num galho de figueira.

João Paulo Monteiro

Poema Andróide - Admirável Homo Habilis


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César Príncipe