Na cidade em que ninguém
quis pintar as casas,
as estruturas de tijolo e cimento
eram mais óbvias do que
em qualquer outra.

Por mais roupa que fosse posta a secar,
nada escondia os vértices,
ou as costelas alongadas
daqueles corpos.

Essa cidade de paredes des+idas,
chamava mais atenção
de martelos e escavadoras -
a demolição de construções menos cuidadas,
mais leve na consciência dos empreendedores,
embora também nessas construções,
vivesse gente.

Nem por isso a cidade desapareceu.
Na cidade em que ninguém
quis pintar as casas,
perante a ameaça de destruição,
as pessoas saíram à rua
e formaram um cordão em seu redor:

assertivos,
desarmados,
nus, claro está,
como as paredes.

Os invasores fugiram,
muito assustados.

Francisca Bartilotti